Terceiro dia de festival
Rock In Rio: dos seis aos sessenta
02.06.2008 - 04h14 Silvia Pereira, PUBLICO.PT
Se o Rock In Rio é um festival assumidamente familiar, o dia de ontem foi a consagração deste carácter. O Parque da Bela Vista começou por ser um "Portugal dos pequenitos" – o dia, afinal, era das crianças - para depois se transformar em palco de emoções infanto-juvenis, congregar todas as gerações e desaguar numa plateia fascinada com a voz rouca do sexagenário mais "sexy" do rock para casino.
O Palco Mundo abriu mais cedo, com música a condizer com o espírito do Dia Mundial da Criança: Docemania, Just Girls e 4 Taste encarregaram-se de aquecer o ambiente para aquele que seria o concerto mais aguardado da vida da plateia sub-16.
O cancelamento do concerto dos Tokio Hotel no Pavilhão Atlântico, em Março, tinha provocado uma onda de desconsolo entre os fãs da banda de emo-rock, menos preocupados com a frustração do que com a saúde do querido vocalista, Bill Kaulitz. A ansiedade em relação ao estado das suas cordas vocais, depois da operação a que foi submetido, desvaneceu-se rapidamente no Rock In Rio. Do alto do "look" andrógino, do rosto imberbe e do penteado "dragonballesco", Bill exibiu uma forma vocal intocável. Intocável foi, aliás, todo o concerto. Há que dar a mão à palmatória: os quatro putos alemães que, de um momento para o outro, se viram no centro de um fenómeno a que alguns veteranos aspiram toda uma carreira, são mais profissionais em palco do que muita gente grande. O profissionalismo, a convicção e o indesmentível carisma da banda – em especial, do vocalista – foram as marcas de um espectáculo imaculado, que fez as delícias das crianças, pré-adolescentes e adolescentes. Cartazes erguidos, juras de amor eterno, unhas pintadas, muitas lágrimas e até soutiens com números de telefone atirados para o palco – foram estes os sintomas da euforia com que foram recebidos.
Com a chegada dos Xutos & Pontapés, a emoção dos verdes anos foi substituída pelo espírito de comunhão que Tim e comparsas conseguem, invariavelmente, levar ao Rock In Rio. A novidade esteve no acompanhamento orquestral. Se temas como "Gritos mudos", "À minha maneira" e "Maria" já são clássicos, com estes arranjos são elevados à categoria de hinos. Infalíveis, bem dispostos e contagiantes no estilo sempre a abrir, os Xutos ofereceram ao festival, mais uma vez, um dos seus momentos mais altos. No final, e porque Portugal não é só selecção de futebol, chamaram ao palco atletas que vão estar nos Jogos Olímpicos de Pequim. Nem Tim conseguiu esconder a emoção perante a força enviada pelo público.
Joss Stone foi a "soul sister" de serviço. Lembremos um pormenor importante: antes de se falar em Amy Winehouse e derivados, já ela andava a brincar à soul com o calor do seu vozeirão de menina, que parece soltar-se sem grande esforço. Princesa de vestido cor-de-rosa, descalça até nas descidas à plateia, Joss Stone distribuiu sorrisos, sensualidade e rosas. A aposta na simplicidade resultou bem: toda a atenção estava no olhar, nas expressões e na voz de "Right to be wrong", "You had me" e "Super duper love", que tiveram sobre o público do Rock In Rio o efeito de uma leve e refrescante brisa perfumada.
No final da noite, a multidão – já mais crescida – juntou-se para ver Rod Stewart, a inconfundível voz rouca de temas como "Maggie May", “Do ya think I'm sexy", "Have I told you lately" ou "Sailing". Rodeado de beldades (no violino, no saxofone, nas vozes), foi soltando um êxito atrás do outro, como quem puxa o brilho a uma carreira sempre pronta a provar que não há nada que a faça parar – muito menos 63 anos de idade.
Source http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1330819